quinta-feira, 21 de junho de 2012

O Suposto texto sobre uma rivalidade que inventaram


A suposta rivalidade construída entre os Xokó e o Mocambo*

Percebi a importância da valorização da cultura indígena no país e em especial em Sergipe e ainda quando se aproxima a comemoração do 19 de abril, pela significante luta no território. Localizada na Ilha de São Pedro, no município de Porto da Folha, nas margens do rio São Francisco, que conta sua história desde o século 17, quando o donatário da mesma região doou aos índios a extensão de uma “légua em quadro” por serviços guerreiros na luta contra os holandeses. A comunidade Xokó difere da maioria das lutas no país por não somente serem tirados de suas terras, mas por serem proibidos  por muito tempo, de dizer quem eram, de assumir sua identidade, de fazer seus ritos, de produzir cerâmica, de dançar o toré... Os Xokó em Sergipe moravam nas redondezas da Ilha de São Pedro e foram obrigados por fazendeiros da região a atravessar o rio e alojar-se somente na ilha, região bem menor daquelas que eles viviam, que era composta pela Ilha (97ha = hectares) e a região da Caiçara (4.220ha). Por volta da década de 70, deu-se o embate com esses fazendeiros, onde houve derramamento de sangue, armas foram expostas, até conseguirem chegar aos bancos dos tribunais de justiça, onde conseguiram a tutela federal, acompanhado pela territorialização das terras da Ilha de São Pedro e a Caiçara, e o mais importante, o direito de assumirem sua verdadeira identidade, nos mostrando toda luta e conquista de um povo guerreiro.
Vizinho a comunidade Xokó existe uma comunidade quilombola, o Mocambo. O Mocambo como os Xokó também partiram para a luta, para a conquista de seus direitos em Sergipe, sua luta é datada da década de 90 em que trouxe o reconhecimento com remanescentes quilombola e a conquista da terra foi um desses direitos conquistados.
Divididos por uma cerca de arrame, com fortes relações de parentesco, a luta pela conquista da valorização de serem o que são, como a luta pela terra, a discriminação, a perseguição, entre outros fatores, os une, por terem uma luta parecida debaixo de um sol rachante.
Nós, detentores da sistematização dos valores científicos, os acadêmicos, precisamos saber nos colocar em situações embaraçosas.  Percebemos o avanço dos Xokó em detrimento dos negros do Mocambo no que diz respeito à burocratização dos seus direitos, por até constatar que, por diversas vezes o representante dos Xokó, Apolônio Xokó, esteve em tantos lugares inicialmente a representar e defender os direitos dos negros e negras do Mocambo, segundo o mesmo**. Assim venho frisar o cuidado de se propagar a rivalidade e o conflito entre essas comunidades, principalmente no meio acadêmico, e a ter a percepção que para diversos alunos e alunas as palavras dos professores e professoras ainda constituem verdade absoluta.
A possibilidade de vivenciar conteúdos na prática se faz de uma experiência única, para qualquer etapa da vida acadêmica, mas o uso da justificativa da rivalidade entre as comunidades para se explicar situações embaraçosas, fica difícil a credibilidade enquanto informação científica.  Conversando com alguns índios Xokó no ultimo dia 15 desse mês e ano, eles me confirmaram sim a rivalidade dessas comunidades, mas no que se tange dentro dos campos de futebol e somente lá, mostrando ser pontual as pequenas intrigas. Com esse relato, deixo minha indignação com relação a interferência da academia na construção de pseudo valores que só fazem implodir as lutas, as conquistas de povos ancestrais no território sergipano, que ainda se tem muito por conquistar e a se comemorar, não se restringindo ao 19 de abril.


REFERENCIA BIBLIOGRÁFICAS
*Texto escrito pela graduanda em História Juliana de Almeida Aguiar Silva. Email: juliana.almeidaaguiar@gmail.com
**Entrevista concedida por Apolônio Xokó em 15/04/2012 na comunidade Xokó.
ARRUTI, José Maurício Paiva Andion. Mocambo: antropologia e história do processo de formação quilombola. Bauru, SP: EDUSC, 2006. 368 p.
DANTAS, Beatriz Góis. Xokó: grupo indígena em Sergipe. Aracaju, SE: Secretaria de Estado da Educação do Desporto e do Lazer, 997.. 45 p.

5 comentários:

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  3. Texto esse publicado em um jornal de renome no estado, o “CINFORM”, na semana do dia 10 de julho do mesmo ano, depois de uma tremenda indignação sentida por mim depois de uma viagem a Comunidade Xokó em 14 e 15 de Abril de 2012, pela aproximação do tal “Dia do índio”. Minha pretensão nessa viagem era simplesmente diversão e passeio por não ter muito interesse por alguns assuntos acadêmicos. Mas essa falta de interesse já tem um tempo, e tb por não concordar com muita coisas com o prof. e organizador da viagem acredita. Primeiramente pelo titulo qe ele deu ao evento "O Sertão tem História", qem num sabe disso? Ou ele tá achando qe tá fazendo a história do sertão com esse tipo de evento? Em que folcloriza as pessoas distantes do gueto da universidade, onde vermos o direcionamento de várias maquinas fotográficas, celulares pra os moradores, no caso, Seu Pedro, dono de um pequeno terreno em qe os currais dentro do seu terreno eram erguidos com pedras, como se o modo de vida do sertão, as artimanhas pra se viver em um local difícil pelo clima, fosse um espetáculo, e qe o digníssimo prof. fosse um diretor de cinema dirigindo o elenco (como vi em boca de alguns), como tantas outras pessoas eram fotografadas. Eu acabava passando muito tempo pelos bares onde parávamos ou um pouco mais afastado da galera pra fumar um, não estava envolvida com as pretensões da viagem. Mas como

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  4. ... Mas como diz minha mãe: “ouvido não tem porteira” acabava por ouvir as baboseiras, até pq eram faladas através de um mega fone, assim não tinha como não ouvir. A história de qe as comunidades, Xokó e Mocambo, eram rivais pra explicar a falta de planejamento e comunicação pra se chegar ou lugar desejado me tirou todo o espírito de NÃO envolvimento com as pretensões daquela viagem. Bateu uma indignação no meu peito qe logo fiquei sem graça. As brincadeiras vieram por cominar na minha indignação... Sem falar das “brincadeiras”, agora já feito com um membro da cominidade, em qe ele veio até nós pra orientar o caminho certo, o dito prof.º dizia assim: “já estamos por chegar, pegem seus espelhos e canivetes qe já estamos chegando próximo a uma comunidade índigena!”. Minha indignação chegou ao estremo de pensar algem qe se diz representante da formação da educação, onde a sala eram de calouros, extravasou!!! Isso é um ABSURDO de ouvir!!!!!!! O titulo do texto só tem a pretensão de chamar a atenção pro texto, qe de fato, no qe diz respeito as relação das comunidades, são somente factuais.
    Tá aqui meu desabafo por completo!! Aff, soltei o qe faltava!!!

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  5. Eu tinha lido os comentários sim, Ju. E fiz questão de divulgá-los, de tão indignado que fiquei por saber que aberrações "metodológicas" como as que tão bem descreveste e que tão profundaste te afetaste são bem mais comuns do que a gente desejaria... Pena! Mas universidade é também isso: estupro e desrespeito, disfarçados de "hierarquia do saber", humpf!

    PS: eu te amo!

    WPC>

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